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Eduardo em visita à Refinaria Abreu e Lima, em 2013 (Foto: Aluisio Moreira/Governo de Pernambuco) |
Por duas das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o ex-governador Eduardo Campos (PSB) teria recebido R$ 15 milhões de propina. É o que afirma o ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria da Silva, que foi diretor da área de engenharia industrial e integrou o Conselho de Administração do braço de óleo e gás da empreiteira. O suposto pagamento teria sido na casa de câmbio Mônaco, no Centro do Recife, depois de tentativas de enviar o dinheiro para uma conta na China.
Faria
afirmou aos procuradores que foi procurado em 2009, em São Paulo, por
Aldo Guedes, ex-sócio de Eduardo Campos e então presidente da Copergás,
a Companhia Pernambucana de Gás. Ele teria solicitado o pagamento de R$ 90
milhões para o Governo de Pernambuco, que daria em troca um apoio da gestão
inclusive nas relações sindicais, já que seriam contratados milhares de
trabalhadores para o canteiro.
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Com a
OAS, a Odebrecht ficou com dois contratos da refinaria. Os valores licitados
para o consórcio foram de R$ 1.485.103.583,21 para implantar as unidades
de destilação atmosférica, UDA, e R$ 3.190.646.503,15 para as de
hidrotratamento de diesel e nafta e geração de hidrogênio, HDT.
Para
ficar com essas obras, a Odebrecht e a OAS teriam feito mais um acordo de
mercado, modalidade ilícita de combinação de preços que era usada pelas
empreiteiras em outros projetos também, como a Arena de Pernambuco e o Complexo
de Suape. No caso da Refinaria Abreu e Lima, segundo Faria, participaram também
a Camargo Corrêa e a Queiroz Galvão. As construtoras já são acusadas pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) em outro inquérito de repassar mais de R$ 41 milhões para Aldo Guedes, o
senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e o empresário João Carlos Lyra,
dono do avião usado por Eduardo Campos na campanha presidencial de 2014, quando
morreu em acidente aéreo.
O delator
da Odebrecht afirmou aos procuradores que Aldo Guedes disse ser o “único
representante” do ex-governador. “Já tinha ouvido falar, mas ele demonstrou
isso claramente na reunião. Não sei se para demonstrar poder”, afirmou Faria.
Segundo o ex-diretor, o ex-presidente da Copergás insistiu em fazer referência
à obra de terraplenagem da refinaria, em que o governo também teria sido
beneficiado. A
solicitação de R$ 90 milhões não foi aceita, segundo Faria – “Falei: ‘olha,
acho que estamos em outro planeta”, relata. O valor oferecido foi de R$ 7,5
milhões pela Odebrecht e R$ 7,5 milhões pela OAS, de acordo com o delator.
“Falei com Hilberto (Silva, que dirigia o Setor de Operações Estruturadas, a
área para o pagamento de propinas dentro da empreiteira) e disse: ‘Tenho uma
dívida com o governador Eduardo Campos, que vai receber através desse aqui (em
referência a Aldo Guedes), o valor é esse, estrutura com ele'”, relatou aos procuradores no depoimento.
Faria
afirmou que soube pelo gestor do departamento de propinas que foram feitas
tentativas de enviar o dinheiro para uma conta na China. “Foi e voltou várias
vezes”, disse. O delator contou que, então, Aldo Guedes teria indicado a casa
de câmbio Mônaco, para onde teriam sido levados os R$ 7,5 milhões referentes ao
pagamento da Odebrecht. O repasse teria sido em real. “E converteu da maneira
que achou mais conveniente”, falou no depoimento.
Outro ex-diretor da empreiteira, Carlos Angeiras, também
falou sobre a suposta conta na China na sua delação. A conta teria sido
informada por João Carlos Lyra para o primeiro repasse que seria para Aldo
Guedes referente à obra. Nesse caso, os outros pagamentos também teriam sido na
Mônaco, onde Eduardo Campos teria o codinome “Neto”, uma alusão ao ex-governador
Miguel Arraes (PSB), seu avô.
A casa de
câmbio fechou no ano passado, em meio às investigações da Operação Turbulência,
quando Lyra foi preso. O estabelecimento já havia sido alvo da 26ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Xepa,
três meses antes.
Além do
suposto pagamento para Algo Guedes, Faria falou sobre repasses para as diretorias
de Abastecimento e de Serviços da Petrobras, responsáveis pela obra da
refinaria. “No caso do abastecimento, de Paulo Roberto Costa, foi um
negócio muito difícil porque ele queria valores excessivos”, afirmou.
Apesar disso, teriam sido R$ 15 milhões para Costa, pagos pela Odebrecht, e R$
15 milhões para o ex-deputado José Janene, do PP, que morreu em 2010.
“Janene era uma pessoa muito difícil, muito arrogante, se indignou e fez um
carnaval”, lembrou ao falar que o ex-parlamentar queria R$ 45 milhões.
Teriam
sido pagos ainda R$ 30 milhões para Pedro Barusco, então gerente de Serviços da
Petrobras, e R$ 15 milhões para Glauco Colepicolo, gerente do
empreendimento – “Prometendo celeridade nas aprovações, o que não ocorreu, mas
foi pago”, ironizou Faria.
Rogério
Araújo, outro ex-diretor da Petrobras, falou no seu depoimento por que os
valores eram repassados. “Paulo Roberto tinha uma presença grande nas reuniões
de meta. Chegava e não tocava fogo na fiscalização. Entendia e procurava
amenizar (os problemas na obra)”, disse. “Glauco se sentia confortável em tocar
os nossos interesses (como a aprovação de aditivos) e sabia que teria o aval do
Barusco.”
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